quarta-feira, 23 de maio de 2007

Chivay e o Cânion do Colca


Em Arequipa, no próprio hotel, contratamos uma excursão para o Cânion do Colca. O passeio dura dois dias e uma noite e inclui guia, transporte, hotel e café da manhã (U$35 p/ casal). Eles te buscam bem cedinho no hotel, às 08:30, mas antes de sair de Arequipa param numa mercearia que vende de tudo. Lá você pode usar banheiro e o guia aconselha comprar comprimidos de coramina (para combater o mal da altitude, ou soroche).


A viagem até Chivay demora umas horas e paramos duas vezes até lá. A primeira parada era numa reserva de vicunhas. A outra parada era num bar para novamente usar banheiro e tomar chá de coca (horrível, mas necessário, pois saímos de Arequipa que fica a 2.300m de altitude e paramos no tal bar que fica a 4.000m). Além do chá de coca o guia nos mandou tomar o comprimido de coramina que havíamos comprado. Neste bar tinha uma alpaca muito engraçada. Ela mordia todo mundo (me mordeu também) e derrubou um açucareiro para comer açúcar. Após a segunda parada o guia distribuiu folhas de coca para que todos pudessem mascar (muito pior que o chá) e nos deu uma aula sobre a folhinha. Ele disse que a folha de coca é extremamente nutritiva, contém 80% das vitaminas que precisamos e mais cálcio que o leite. Ele disse que apenas 7% da folha é tóxico e que as pessoas no Peru e na Bolívia, além da folha de coca, consomem uma pedrinha que retira o efeito tóxico. Só que nós, como não estamos acostumados, não podemos consumir a pedra.



Chivay fica a 3.900m de altitude e para entrar na cidade temos que pagar uma taxa turística de S/35 por pessoa. Já era hora do almoço e paramos num restaurante onde se come à vontade por apenas S/15. No buffet tem um pouco de todas as comidas típicas: alpaca, cuy (porquinho da índia), rocoto, chincharón etc.


Após o almoço o guia deixa cada pessoa no seu hotel para um descanso de 1h. Nosso hotel era o Colca Inn. Não era ruim, mas era barulhento também e não tinha TV.



Apesar de comprimido de coramina, folhas e chá de coca, o Thiago não se sentiu bem. Mesmo assim, fomos para o passeio numa pequena ruína inca, dedicada a festas, orações e sacrifícios. Os Incas amavam a natureza e em troca de tudo o que lhes era dado ofereciam aos seus deuses o que tinham de melhor. Todo ano, neste lugar, eles realizavam uma festa e escolhiam a melhor alpaca para sacrificar, retirando seu fígado e oferecendo aos deuses. Depois desse passeio fomos para as piscinas de água quente, chamada "calera". Paga-se S/10 se quiser entrar nas piscinas. Já era noite e estava muito, muito frio. Decidimos não entrar. Voltamos ao hotel e encontramos mais pessoas sentindo dor de cabeça e enjôo por causa da altitude.

No dia seguinte, às 5h da manhã, o recepcionista do hotel bate de porta em porta para acordar a galera. O passeio para o cânion sai às 6h. Paramos num povoado chamado Yanque. Era segunda-feira, 6:30h, e na praça tinha música e crianças dançando com trajes típicos. Várias pessoas vendiam artesanatos, outras tantas, com roupas típicas, pediam moedas em troca de uma foto. Claro que eu tirei foto, com uma águia no meu braço!









Voltamos ao ônibus e fomos ouvindo histórias do povo daqui. Eles usam roupas típicas sempre, diferente das outras cidades por onde havíamos passado. Só que eles usam essas roupas não por moda, mas porque, para eles, elas têm um significado. Indicam a sua tribo, o seu estado civil etc. Dois povos vivem naquela região do Colca, os cabanas e os collaguas. Antigamente, eles compartilhavam tudo entre si, terra, comida, festas. Só não compartilhavam o casamento. Cabanas só casavam com cabanas e collaguas só com collaguas. Mas como sabiam quem era o que? Fácil! Os Cabanas amarravam em seus bebês dois pedaços de madeira, um sobre a cabeça e outro embaixo do queixo. Assim, os cabanas cresciam, mas a cabeça não. Os collaguas também amarravam em seus bebês dois pedaços de madeira, um ao lado de cada orelha. Assim, a cabeça crescia pro alto. Hoje em dia eles já podem casar entre si, mas o homem herda a tribo e costumes da mulher. Mas hoje não há mais pedaços de madeira na cabeça. Eles se diferenciam agora pelo tipo de chapéu. Cabanas usam chapéus arredondados e collaguas usam chapéus quadrados. Melhor assim, né? Olha aí uma foto de crânio collagua e da diferença do chapéu.

O Cânion do Colca é o mais profundo do mundo. Têm 4160m de profundidade e a cada ano vai ficando mais profundo. Cientistas descobriram que toda aquela área havia sido um grande lago e após um forte terremoto que houve em 2001, toda a área do cânion começou a afundar 2cm por ano.





Chegamos na "Cruz del condor", na beira do cânion. Ali passamos algumas horas vendo condores andinos voando. Eles são imensos e voam pelo cânion de um jeito tão lindo... só estando lá pra ver! Os condores velhos, que já não conseguem voar muito, voam o mais alto que podem e depois se suicidam, se jogando contra as rochas.




Da "cruz del condor" fizemos mais três paradas antes de voltar a Chivay. Numa delas vimos um cemitério inca na encosta de uma montanha bem alta. As tumbas são feitas de pedras, paus e cordas, formando um 1/2 círculo.




Retornamos a Chivay para almoçar e, após o almoço partimos rumo a Arequipa. No retorno, fizemos uma parada no mirante mais alto do local. Fica a 4910m de altitude. O lugar se chama Patapampa e de lá você consegue ver vários vulcões. Só que você não consegue ficar do lado de fora do ônibus por mais de 5 minutos. É muito frio lá fora e respirar é uma tarefa bem difícil.


Chegamos em Arequipa umas 17:30h. Com o Thiago ainda sentindo o soroche, o jeito foi pedir uma comida por telefone e descansar. Ficamos mais duas noites em Arequipa para descansar um pouco. No dia 18/04, às 11:30, saímos de Arequipa com destino a Puno pela empresa Cruz Del Sur. A passagem custa S/27 e a viagem dura 5h.

Coisas engraçadas: num lugar onde paramos tinha uma mulher com duas alpacas. Uma de pêlo curto se chamava Príncipe Charles. A outra, de pêlo longo, se chamava Bob Marley.
Coisas nojentas: As pessoas, no Peru, costumam cobrar S/0,50 pelo uso do banheiro. Em nenhum deles tem papel, mas várias pessoas da excursão entravam no banheiro e faziam no número 2 assim mesmo.